20 de nov. de 2009

"... Alguns homens procuravam este conhecimento, este Deus, através dos templos, os sacrifícios, as guerras santas, as peregrinações, os suores do trabalho. Outros, como eu, poderiam busca-lo sobre o riso solto de um débil mental, a gargalhada de uma bruxa, tripas, gengivas, um rato, os odores mais escondidos de um corpo, as contrações e gemidos do prazer, em tudo iguais às convulsões da morte."
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"Porém no silêncio de Deus eu via também algo terrível. Que a satisfação do meu desejo implicaria numa queda no abismo do vácuo. Eu estaria completamente realizado. E poderia sobreviver aquela nova aflição que é igual ao vômito de um estômago vazio. Não resta nada para expelir e, no entanto, as vísceras se convulsionam. Não há nada também a desejar e, no entanto, se anseia muito mais do que em qualquer tempo anterior. O coração anseia mesmo pela perda de tudo o que foi adquirido, para que possa então recomeçar a ter desejos.

Agora, neste momento, eu tinha a visão de que o desejo da própria vida não passa do desejo desse desejar permanente e que qualquer saciedade seria o fim. Então se poderia pedir a Deus o nada, a paz da morte, como o Velho Canastrão. Mas Deus não concede a morte por meros pedidos. A morte obedece apenas a seus próprios caprichos, a não ser para aqueles que possuem a audácia de atirar-se nela. Mas quem conhece o destino que guarda os suicidas? E se este destino for, talvez, renascimentos sucessivos?"
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"Deus era apenas o silêncio, o oco, a indiferença altiva, o vazio. E a resposta que se fazia dentro de mim era como o eco daqueles que clamam no deserto e só escutam, de volta, o som impotente e esganiço do próprio desespero."

(trechos do livro SIMULACROS, autor SÉRGIO SANT'ANNA, paginas 151, 175 e 176.)