17 de nov. de 2009

"Impõem-se-me aqui inserir um comentário psicológico. Embora saiba muito pouco da vida do Lobo das Estepes, tenho todas as razões para crer que foi criado por Pais e mestres extremosos, mas severos e muito religiosos, dentro daquela ideia-mestra que faz da "quebra da vontade" pilar de toda a educação. Só que esse aniquilamento da personalidade, essa quebra de vontade, não tinham vingado neste aluno, que era demasiado forte e duro, demasiado orgulhoso e inteligente para vergar.

Em vez de lhe aniquilarem a personalidade, apenas tinham conseguido ensiná-lo a odiar-se a si proprio.
Pois ao desencadear antes de tudo e acima de tudo contra si próprio toda a acerbidade, todas as criticas, violências e repudiações de que se servis era Cristo de pessoa inteira, era mártir de pessoa inteira.

No que respeitava aos outros, ao mundo circundante, continuamente se esforçava, em luta das mais heróicas e sérias, por amá-los, fazer-lhes justiça, não lhes fazer mal, pois o "amor ao proximo" estava tão profundamente cravado nele como o ódio a si próprio; e assim toda a sua vida era um exemplo de que sem amor a si proprio também o amor ao próximo é impossivel, que o ódio a si próprio é exactamente a mesma coisa que o egoísmo nu e cru, e acaba por gerar o mesmo sinistro isolamento, o mesmo desespero."


[ "O Lobo das Estepes",  Hermann Hesse]
MANSA LOUCURA... Muitos se ferem com espinhos. Eu tenho essa mansa loucura de me cortar com pétalas. As coisas todas, e mais as coisas belas, traçam-me talhos. Um sorriso gratuito sangra por meses. Uma cor, especialmente definida, contra um céu azul pode arder tão fundo quanto a pior incisão. Mãos de crianças me laceram... Gestos de homens me esquartejam. Toda cortada, tenho a alma feita aos trapos. E o coração todo aos pedaços. A minha vida é, sempre, uma linda colcha de retalhos. (Lígia Gomes Carneiro)
"Uma por uma, em troca de uma canção, a Morte foi entregando os preciosos objetos, e o Rouxinol continuou a cantar. Cantou sobre a quietude do cemitério, onde crescem as rosas brancas, onde o sabugueiro exala o seu perfume e a fresca relva é regada pelas lagrimas dos sobreviventes. A Morte sentiu então saudades do seu jardim e, como uma nevoa branca e fria, saiu pela janela."

 (O Rouxinol - livro: CONTOS DE ANDERSEN, ed. Paz e Terra. Autor: HANS CHRISTIAN ANDERSEN)