"Impõem-se-me aqui inserir um comentário psicológico. Embora saiba muito pouco da vida do Lobo das Estepes, tenho todas as razões para crer que foi criado por Pais e mestres extremosos, mas severos e muito religiosos, dentro daquela ideia-mestra que faz da "quebra da vontade" pilar de toda a educação. Só que esse aniquilamento da personalidade, essa quebra de vontade, não tinham vingado neste aluno, que era demasiado forte e duro, demasiado orgulhoso e inteligente para vergar.
Em vez de lhe aniquilarem a personalidade, apenas tinham conseguido ensiná-lo a odiar-se a si proprio.
Pois ao desencadear antes de tudo e acima de tudo contra si próprio toda a acerbidade, todas as criticas, violências e repudiações de que se servis era Cristo de pessoa inteira, era mártir de pessoa inteira.
No que respeitava aos outros, ao mundo circundante, continuamente se esforçava, em luta das mais heróicas e sérias, por amá-los, fazer-lhes justiça, não lhes fazer mal, pois o "amor ao proximo" estava tão profundamente cravado nele como o ódio a si próprio; e assim toda a sua vida era um exemplo de que sem amor a si proprio também o amor ao próximo é impossivel, que o ódio a si próprio é exactamente a mesma coisa que o egoísmo nu e cru, e acaba por gerar o mesmo sinistro isolamento, o mesmo desespero."
[ "O Lobo das Estepes", Hermann Hesse]
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