"
Quando houver um verdadeiro medico filosofo, coisa pouco comum, poderá fazer um importante estudo sobre o vinho, uma espécie de psicologia dupla em que o vinho e o homem constituem os dois termos.
Explicará como e por quê certas bebidas contém a faculdade de aumentar exageradamente a personalidade do ser pensante e criar, por assim dizer, uma terceira pessoa, operação mística, onde o homem natural e o vinho, o deus animal e o deus vegetal, desempenham o papel do Pai e do Filho na Santa Trindade: geram um Espírito Santo que é o homem superior, o qual procede igualmente dos dois.
(...)
Um velho autor disconhecido disse: Nada se iguala à alegria do homem que bebe, a não ser a alegria do vinho
de ser bebido.?
"
[O Poema do Haxixe - Baudelaire, C. - tradução A.P. Marie Cambe.]
11 de ago. de 2009
MORTE EM VENEZA
As observações e as vivencias do solitário calado são ao mesmo tempo mais difusas e intensas do que a dos seres sociáveis, seus pensamentos, mais graves, mais fantasiosos e sempre marcados por um laico de tristeza. Imagens e impressões que facilmente seriam esquecidas com um olhar, um sorriso, uma troca de opiniões ocupam-no mais do que o devido, aprofundam-se no silêncio, ganham significado, transformam-se em vivência, aventura, sentimento.
A solidão engendra o original, o belo ousado e surpreendente, o poema. Mas engendra também o inverso, o desmedido, o absurdo e o ilícito.
Era assim que as imagens da viagem - o horroroso velho janta com seus disparates sobre a amada, o gondoleiro clandestino, logrado em seu pagamento - ainda agora perturbavam o ânimo do viajante. Sem construir um desafio à razão, sem fornecer, na verdade, material para reflexão, eram no entanto, ao que lhe parecia, profundamente estranhas, por sua própria natureza, e era justamente essa contradição que as tornava inquietantes. Ao mesmo tempo, ele saudava o mar com os olhos e se alegrava em saber Veneza tão próxima, tão acessível..
(fragmento. MORTE EM VENEZA/Thomas Mann. Tradução: Eloísa Ferreira Araújo Silva.)
A solidão engendra o original, o belo ousado e surpreendente, o poema. Mas engendra também o inverso, o desmedido, o absurdo e o ilícito.
Era assim que as imagens da viagem - o horroroso velho janta com seus disparates sobre a amada, o gondoleiro clandestino, logrado em seu pagamento - ainda agora perturbavam o ânimo do viajante. Sem construir um desafio à razão, sem fornecer, na verdade, material para reflexão, eram no entanto, ao que lhe parecia, profundamente estranhas, por sua própria natureza, e era justamente essa contradição que as tornava inquietantes. Ao mesmo tempo, ele saudava o mar com os olhos e se alegrava em saber Veneza tão próxima, tão acessível..
(fragmento. MORTE EM VENEZA/Thomas Mann. Tradução: Eloísa Ferreira Araújo Silva.)
Poesia -
A vida fora da autografia.
A vida fora da biografia.
A vida fora da caligrafia.
A vida fora da discografia.
A vida fora da etnografia.
A vida fora da fotografia.
A vida fora da geografia.
A vida fora da holografia.
A vida fora da iconografia.
A vida fora da logografia.
A vida fora da monografia.
A vida fora da nomografia.
A vida fora da ortografia.
A vida fora da pornografia.
A vida fora da quirografia.
A vida fora da radiografia.
A vida fora da serigrafia.
A vida fora da telegrafia.
A vida fora da urografia.
A vida fora da videografia.
A vida fora da xilografia.
A vida fora da zoografia.
- A vida inde.
[Arnaldo Antunes - Tudos]
A vida fora da biografia.
A vida fora da caligrafia.
A vida fora da discografia.
A vida fora da etnografia.
A vida fora da fotografia.
A vida fora da geografia.
A vida fora da holografia.
A vida fora da iconografia.
A vida fora da logografia.
A vida fora da monografia.
A vida fora da nomografia.
A vida fora da ortografia.
A vida fora da pornografia.
A vida fora da quirografia.
A vida fora da radiografia.
A vida fora da serigrafia.
A vida fora da telegrafia.
A vida fora da urografia.
A vida fora da videografia.
A vida fora da xilografia.
A vida fora da zoografia.
- A vida inde.
[Arnaldo Antunes - Tudos]
Lírios Mortos
Bendigo os lírios d’alma, amortecidos lírios,
Que tombam sem olor em anciãs dos martírios!
Lírios! Que por camena erguidos da miséria,
Ao cálamo oferece esta camena etérea,
Esta carme de dor! Lírios negros... horríveis...
As divicias do amor! Lírios tão marcescíveis,
Que aliciam o pó e se entregam ao nada.
Lírios negros - a fome, a dor imaculada,Imaculada dor.
O’ lírios fenecidos
Em sentimentos mil, em acroamas nascidos,
Que fazem soar pelas dores liriais...
No lodo impuro - a vida,
entreabrem-se lírios:
- Dores, misérias vis...
almas entre delírios...
Os lírios sem olor que sucumbem com a sorte,
E sucumbem sorrindo...
os lírios:
atroz esquecimento,
Oculta atra miséria e na miséria expira...
Porém, meu sentimento, a minha doce lira,
Tange.
Minha alma, chora:
a lira,
tange e chora...
Minha alma triste...
Sente horrores e se penhora.
Na miséria e na dor
que sinto no meu peito:
Na miséria e na dor
de que este mundo é feito!
Lírios d’alma Senhor, são negros, espinhosos,
Que na miséria são, espinhos dolorosos,
Ferindo a humanidade, envenenando a vida”
Que inspira compaixão!
Lírios, espinhos são:
Sacros, sentimentais,
de divinal unção!
Prantos de desespero, herpes só de infortúnios....
Prantos, consolo da alma, herpes de plenilúnios!
Ó! Quando cai um pranto,
um doce lírio tomba;
Quando um gemido esvai,
um doce lírio zombaEmurchecido na haste e emurchecido... morre;A seiva se desprende....
e chora...
e pranto escorre!
Ó lírios de minha alma, ó lírios divinais!
Lírios negros - misérias, atroz, sentimentais!
Lírios de minha vida - um mar de sentimentos,
Um mar de dores feito, um mar cheio de portos,
Benditos
lírios
da alma,
ó negros
lírios
mortos!
[Lírios Mortos, Silvino da C. Silva. São Pailo, 1932 - pagina 86]
Que tombam sem olor em anciãs dos martírios!
Lírios! Que por camena erguidos da miséria,
Ao cálamo oferece esta camena etérea,
Esta carme de dor! Lírios negros... horríveis...
As divicias do amor! Lírios tão marcescíveis,
Que aliciam o pó e se entregam ao nada.
Lírios negros - a fome, a dor imaculada,Imaculada dor.
O’ lírios fenecidos
Em sentimentos mil, em acroamas nascidos,
Que fazem soar pelas dores liriais...
No lodo impuro - a vida,
entreabrem-se lírios:
- Dores, misérias vis...
almas entre delírios...
Os lírios sem olor que sucumbem com a sorte,
E sucumbem sorrindo...
os lírios:
atroz esquecimento,
Oculta atra miséria e na miséria expira...
Porém, meu sentimento, a minha doce lira,
Tange.
Minha alma, chora:
a lira,
tange e chora...
Minha alma triste...
Sente horrores e se penhora.
Na miséria e na dor
que sinto no meu peito:
Na miséria e na dor
de que este mundo é feito!
Lírios d’alma Senhor, são negros, espinhosos,
Que na miséria são, espinhos dolorosos,
Ferindo a humanidade, envenenando a vida”
Que inspira compaixão!
Lírios, espinhos são:
Sacros, sentimentais,
de divinal unção!
Prantos de desespero, herpes só de infortúnios....
Prantos, consolo da alma, herpes de plenilúnios!
Ó! Quando cai um pranto,
um doce lírio tomba;
Quando um gemido esvai,
um doce lírio zombaEmurchecido na haste e emurchecido... morre;A seiva se desprende....
e chora...
e pranto escorre!
Ó lírios de minha alma, ó lírios divinais!
Lírios negros - misérias, atroz, sentimentais!
Lírios de minha vida - um mar de sentimentos,
Um mar de dores feito, um mar cheio de portos,
Benditos
lírios
da alma,
ó negros
lírios
mortos!
[Lírios Mortos, Silvino da C. Silva. São Pailo, 1932 - pagina 86]
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