10 de nov. de 2008

"Quando a quietude chegou, foi para expandir-se dentro de Estha. Brotou de sua cabeça e o envolveu com braços pantanosos. Embalando-o ao ritmo de uma pulsação antiga, fetal. Projetou seus tentáculos com ventosas furtivas deslizando pelo interior do crânio, aspirando os picos e depressões de sua memória, deslocando velhas frases, que surrupiava da ponta da língua dele. Despiu seus pensamentos das palavras que os descreviam deixando-os esfolados, nus. indizíveis. Entorpecidos. E para um observador, portanto, talvez quase ausentes. Lentamente, ao longo dos anos, Estha foi se retirando do mundo. Acostumou-se ao inquieto polvo que vivia dentro dele e esguichava uma tinta tranqúilizante sobre seu passado. Gradualmente, a razão de seu silêncio foi se escondendo, sepultada no fundo das dobras serenas do fato em si."


...
"Enquanto mexia a geléia grossa, Estha pensou Dois Pensamentos, e os Dois Pensamentos que ele pensou são os seguintes: (a) Tudo pode acontecer para Qualquer Um e (b) É melhor estar preparado".


[imagem: Silence - Henry Fuseli (1741-1825)]
[texto: "O Deus das Pequenas Coisas" de Pandit Garan
+ http://www.germinaliteratura.com.br/bazaar2_mar2006.htm]

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