14 de jul. de 2009

CANTO DE LOPLOKAMONA

Coroada de íris negros e goivos amarelos,
a noite sai dos bosques onde há deuses e mistérios.

Mas, antes que ela venha, com seus lábios merencórios,
beber o vinho de ouro com que o sol encheu meus olhos.

danço uma dança solta como as folhas entre a névoa,
e canto um canto longo como o vendo mau que as leva

E cai, como uma folha, cada gesto do meu corpo;
e leva-os pela névoa minha voz, que é como um sopro.

Coroado de íris negros e goivos amarelos,
A noite sai dos bosques, onde há deuses e mistérios.

LOPLOKAMONA E ÓPHIS

Óphis
Deita-te aqui, perto de mim!
Toda estendida... Vem mais perto... Mais

Loplokamona
Assim?

Óphis
Assim. Não te descubras tanto
Não quero que te toque o chão. Deixa o teu manto
De lã neutra morrer
Entre a terra e o teu corpo: tenho ciúme da terra.

Loplokamona
E sabes bem que ela há de ser a ultima a me
possuir, quando eu for um perfume na planíce de asfólos...

Óphis
Que queres?
Fui feita para o amor. Os homens e as mulheres
São iguais para mim. Ah! Quando eu for somente
Uma luz subterrânea entre as sombras de paz,
Farás a minha sepultura e escreverás
Sob a taça e a serpente:
- "Sou Óphis de Cynthera
"O meu leito foi grande e sonoro de amor.
"Põe um silêncio grave entre teus pés e a terra:
"Não me acordes, viajor!
"Esta é a primeira vez que me deito sozinha..."

Loplokamona
Pois se a terra há de ser tua amante e a minha,
porque ter ciúmes dela?

Óphis
Loplokamona, há pouco,
Quando dançavas sobre as folhas cor de fogo
A tua dança de fumaça, quase
Fugindo para o céu
Nos movimentos de teu véu
Áureo, de gaze!
Eu abençoei o outono
Que estendeu pela terra o tapete de sono,
Isolando os teus pés
Do chão corrupto como um homem.

Loplokamona
E és
Quase um homem também: o teu ventre é moreno
E exíguo como uma concha do mar;
O teu seio é tão pequeno
Que mal contem um beijo, o teu olhar
É distante como as montanhas, e os joelhos
São firmes e têm força, e os teus cabelos
São cortados como os de um atleta...
Parece um pastor
E parece um poeta

(...)

( Guilherme de Almeida - Literatura Comentada, pág.65/66 - ed. Abril)

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